sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ei música ainda podemos salvar você?



Renato Russo está morto. Raul está morto também. E não vão mais voltar das suas viagens ao cosmos do céu, bem disse Zé Ramalho em para Raul. A Legião Urbana ainda continua viva na sua obra e lembranças, mas não existe mais a formação da banda. Os Engenheiros está desfeito. Freddy Mercury também morreu, Cazuza e Kurt Cobain idem. RPM e Ultraje a Rigor enveredam pelo caminho do pop e estão politicamente alinhados com o pensamento economicamente dominante. Espera-se pouco destes dois grupos, que reconhecidamente, já nos legou músicas verdadeiramente genuínas. A música está contaminada por coisas que achamos pelo menos estranhas. Apesar de fazer parte do processo, há coisas que soam bastante como escandalosas. O a lelek lek, poderosas, funk ostentação, forró mercantilizado, etc. “Produções” que podemos definir como, no mínimo, sem nenhuma criatividade artista. Então a pergunta surge inquietante: quem ou o que pode salvar música? Tentarei responder devidamente a pergunta que faço.

Nem tudo está perdido. E já é uma perspectiva animadora por esse ângulo. Já eleva os ânimos. E não há por que desanimar com o que vemos ou escutamos na TV. As obras de Mozart e Beethoven não são televisionadas. A revolução em qualquer aspecto não passará na Televisão. E não adianta chorar pelo leite não derramado. Esse leite vai para os sugadores, para a elite. Mas a música? Reflexões acerca dela são sempre pertinentes e fundamental que se faça. Não podemos deixar a música morrer. Ou melhor, pelo menos não a boa música. E olhe que estou chamando as outras aí de música, de modo que já faça muito.

Um dia desses um amigo me perguntou se tinha jeito de salvar a música. Pensei inicialmente em dizer que não, não havia. Mas ponderei e quis dizer a ele que não podemos generalizar, por que seria pôr tudo num barco e afundar tudo de uma vez só. Mas não é isso o que acontece. Há pessoas boas salvando a música, e eu já ia escrevendo literalmente. Ainda temos Chico Buarque, Caetano Veloso, Zeca Baleiro, Zé Ramalho. O Humberto Gessinger (dos Engenheiros) ainda continua na estrada. Existe o Cachorro Grande. Isso o cachorro grande existe, é uma banda de rock do rio grande do sul. Uma banda de glam rock existe lá no Mato Grosso, chamada de Vanguart. Muito bom o som deles. Para os metaleiros temos o Sepultura e mesmo que eles cantem em inglês, nós temos a opção de pegar (quase sempre) a letra na internet e ainda traduzir, assim “derrubamos” dois coelhos de uma vez só, ou seja, ouvimos uma boa (e pesada) música e ainda aprendemos inglês, uma língua necessária hoje em dia.

Mas queremos salvar a música. Sempre dizemos isso. A verdade é que não se aproveita nada do que o pessoal vende hoje em termos de música (de novo as exceções). Ainda temos o Titãs, é certo. Mas leia o comentário que um leitor/internauta faz num texto publicado na revista eletrônica Papo de Homem.

Sou da gerção (sic) de ouro do rock nacional: Cazuza, Barão Vermelho, Legião Urbana, RPM, Titãs e Paralamas do Sucesso. Naquela época, cantávamos a rebeldia do interesse coletivo. Nos preocupávamos com as mudanças do cenário político nacional. E fico decepcionado ao ver nossas lutas e conquistas, nosso grito de rebeldia, por aquilo que sonhávamos, acabar dessa forma: uma juventude cada vez mais inerte, indiferente com as coisas ao redor. Que só olham para o próprio umbigo. Que só querem saber de celulares caros, facebook e carro importado. A grande maioria hoje é dessa forma. Antes tínhamos o interesse coletivo. Hoje, prevalece o interesse individual.

O grande Renato Russo, o último poeta do rock nacional, era célebre pelas suas letras. Pudera, o cara tinha uma biblioteca pessoal em sua casa. Hoje, temos Restart, banda que faz sucesso, que mal sabe a capital do Mato Grosso. Que diz desconhecer se no norte do país existe civilização. Esses são os 'ídolos' de hoje. Esses são o 'futuro' do país.
Sobre aonde foram parar os 'ídolos', tenho a desconfiança que o último a nível mundial morreu em 1994 e o último ídolo nacional morreu em 1996. E todos eles, neste exato momento, estão lá, conversando e cantando ao lado de Deus” (em www.papodehomem.com.br).
Naquela época, cantávamos a rebeldia do interesse coletivo”, diz o leitor. Fica difícil imaginar um ouvinte de Anitta (pode ter exceção) comentar sobre Política Nacional nos dias atuais. Pode-se até defender que a minha crítica é precipitada. Precipitada mas verdadeira. Se é difícil ver/ler um post realmente relevante da imensa maioria do pessoal que usa certas mídias sociais, imaginemos do pessoal que é fã de uma onda do momento, “que só querem saber de celulares caros, facebook e carro importado”, como escreveu o leitor/internauta
Bom, acontece que como já disse e friso novamente, existe um mar de anônimos e de outros não tão anônimos fazendo música boas até mesmo alternativamente, pois como disse a revolução (na arte/música aqui) não é televisionada. Há muita opção, por incrível que possa parecer. Há garotos fundando bandas de garagem que fazem um som estrondoso e um rock engajado, como tem de ser. Há outros que fazem forró de qualidade, nativo, verdadeiro e autentico como o de Luiz Gonzaga. O Fagner, o Ednardo, o Belchior, o Alceu Valença, o Lenine, todo mundo está aí na ativa. O RPM ainda é “ouvível”, etc. O reggae existe é muito bom, basta ouvir Tribo de Jah, Alpha Blondy. O rap é legal. O de Gabriel O Pensador, dos Racionais MCs e também do Marcelo D2, etc. Festivais de boa música existem, apesar de distantes de nós, a ideia persiste. SWU, Rock in Rio (isso mesmo, o próprio), Ceará Music, o festival na internet chamado WebFestValda e muito mais.


Fica o texto para análise. E sim, queremos discutir sobre Música. É necessária a discussão. Mas queremos fazer de forma plenamente salutar. E acho que é por aqui!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O código GNU/Linux e a importância do Software Livre


Estamos vivenciando a era/mundo da informação de modo que ser ignorante sobre muitos assuntos concernentes a tal mundo é uma escolha. Hoje a internet é parte integrante da vida cotidiana de muitos, lógico há ainda muitas exceções, porém a ampla maioria das pessoas possuem computadores, tablets, smartphones/celulares conectados à internet. Ou ainda tem-se Cybers e Lan Houses com preços acessíveis para as pessoas consultarem a internet e aprenderem sobre o que quiserem.
No mundo da Informática/Computação existem muitas coisas legais para se aprender. Para quem tem internet, tempo e vontade, pode-se aprender uma infinidade de coisas fantásticas. Sistemas Operacionais (SO) e Software Livre (SL) são temas importantes para se aprender e seguir. No mercado há vários SOs, alguns livres e outros proprietários. Como exemplo de SO proprietário temos o Windows da Microsoft, o Mac OS X da Apple e de SO livre, ou de código aberto, temos o FreeBSD (e derivados) e o Linux ou mais precisamente o GNU/Linux (e distribuições)
Software livre ou de código aberto (open source) é o que os apreciadores do compartilhamento da informação e do conhecimento (aqueles que amam a liberdade acima de tudo), os gurus da informática, como o criador do Linux (Linus Torvalds) e o criador da GPL – Licença Geral Pública, do poderoso editor de textos EMACS e do projeto GNU (Richard Stallman) são os representantes número UM. Richard Stallman, por exemplo, é um ativista político do SL, para nossa alegria! E Linus Torvalds o pai do GNU/Linux, SO do qual passarei a falar,
O Linux passou a ser um SO que é um barato desde quando o seu criador, o finlandês Linus Torvalds – na época estudante de Computação na Universidade de Helsinque na Finlândia, liberou seu código-fonte em 1991 para que todos os programadores do mundo pudessem mudá-lo e aperfeiçoá-lo a seu gosto e nos dessem um SO seguro, elegante e o mais importante, gratuito/livre. O Linux passou a ser o código dos aficionados em Informática, sejam eles hacker (e também os crackers) ou simplesmente entusiastas desse mundo fascinante do conhecimento.
O Linux é um SO derivado de outro sistema operacional, o Unix. Linus usou o kernel (núcleo=>centro nervoso=>coração) do Unix para criar esse SO tão legal, que é o GNU/Linux. Depois ele o incrementou/liberou sobre a licença GPL do sr. Stallman do projeto GNU e dái que o SO pode ser chamado de GNU/Linux como havíamos dito. E também por que seria desonesto da parte de todos nomeá-lo de Linux apenas.
Richard Stallman é um guru da Informática/Computação, ativista político do SL, que vem cada vez mais influenciando no mundo pessoas, empresas e governos a usarem o Software Livre, que nada mais é do que hardware e softwares livres e não proprietários. SO livres como o Linux e outros SOs não proprietários como os da família *BSD, mais exatamente como FreeBSD, OpenBSD, NetBSD etc.
E pensar que ainda tem gente sem nenhuma consciência política que sustenta que os “feras” da Informática/Computação são empresários como Bill Gates e ou Steve Jobs. Esses são empresários, por mais que sejam “feras”, o projeto dele é apenas ter retorno financeiro o que é diametralmente oposto ao pensamento de pessoas como Richard Stallman e Linus Torvalds, que nos legam o conhecimento livre para todos, indistintamente!
E por que amamos a liberdade e compartilhamento gratuito do conhecimento, o GNU/Linux é o nosso código, o código Linux, mas um código aberto e livre!

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Mais de Zé, Mais de Rock

Música o rei do rock
Zé Ramalho
              (Zé Ramalho. Não é o rei do rock mas é uma mistura de tudo!)

Eu nunca fui o rei do rock
Mas não vendi minha guitarra
Um cantador me deu o toque
Cante, não berre, agüente a barra

Aí então me fiz cantor
Cego aboiando a ventania
Raios, trovões de trovador
Espalhei na terra fria

Da paraíba ao mississipi
Levei meu som num velho opala
Eu já fui junkie, eu já fui hippie
Hoje é o mundo minha sala

Atravessei o riso e o choro
Dias e mares de marasmo
Com meu casaco de couro
Eu me sentia um erasmo

Por onde andei, cantei baladas
Raps, repentes, tristes blues
Rasgando o ventre das estradas
Cegando o escuro tanta era a luz

Vaguei por ruas sem asfalto
Andei por becos sem saída
Lutei até o último assalto
No ringue louco dessa vida


Na tela grande do destino
Fui bandoleiro, fui caubói
Vaqueiro errante, beduíno
Soldado dado à dor que dói

Amei mulheres às dezenas
Ergui altares para elas
Plantei crisântemos, verbenas
Rezei novenas, vi novelas

Poeta torto como um anjo
Voei por astros e planetas
Desafinando eu e meu banjo
O triste coro dos caretas

Na tela do grande cinema
Fui justiceiro, menestrel
A minha vida é um poema
Que escrevi com sangue e fel

Eu nunca fui o rei do rock
Mas não vendi minha guitarra
Um cantador me deu o toque
Cante, não berre, agüente a barra


Ouça a música

domingo, 15 de setembro de 2013

APOCALYPSE AGALOPADO

Apocalypse
Zé Ramalho - Rio de Janeiro
direto



Foi um tempo que o tempo não esquece
Que os trovões eram roucos de se ouvir
Todo um céu começou a se abrir
Numa fenda de fogo que aparece
O poeta inicia a sua prece
Ponteando em cordas e lamentos
Escrevendo seus novos mandamentos
Na fronteira de um mundo alucinado
Cavalgando em martelo agalopado
E viajando com loucos pensamentos

Querubins executam nas trombetas
Um acorde em todos instrumentos
Violeiros cantando mandamentos
Plangem cordas, violas e palhetas
Peregrinos carregam nas maletas
Suas tábuas talhadas por Sumé
Serpentários perdidos no sopé
Na montanha das aves carirís
Periquitos, canários e com-criz
Porta-voz do cacique Lucifér

Renuncio à morte e mato a vida
Aterrizo no céu minha astronave
Busco pedras, de fino alinhave
Solto raios, trovão não me intimida
Furacões nessa terra perseguida
Amolecem a fé no Criador
Derrubando muralhas com furor
Vem a Bêsta vingar enfurecida
Despertando em luz enegrecida
E assolando vulcões em seu vigor

Pelas praias parou o movimento
Das espumas gentis e flutuantes
Não há barcos de velas ululantes
Nem baleias na cor do pensamento
Nesse dia se fez o julgamento
Dos severos castigos do Senhor
Pro inferno quem vai é pecador
Grossas teias de fogo lhe acompanham
Sete quedas de braço lhe apanham
E estrangulam-no como um traidor

Entre os seios da Bêsta flamejante
Um cavalo de fogo se escondeu
Uma lua de lata apareceu
Numa aurora de luz alucinante
Do cavalo desceu um ser gigante
Caminhando que nem um vingador
Pareceu-me ser um gladiador
Sua rede tem pregos retorcidos
Arrastando cadelas e maridos
Para o reino do sonho aterrador

O serrote de lajes reluzentes
Obscuro ficou naquela hora
Um vaqueiro perdeu sua espora
Desonrado caiu entre os clementes
A beata Maria dos Parentes
Começou loucamente a se despir
Enforcou-se nos braços de Nair
Sua morte foi calma e tão serena
Parecendo Maria Madalena
Procurando um motivo prá sorrir

Sete botas pisaram no telhado
Sete léguas comeram-se assim
Sete quedas de larva e de marfim
Sete copos de sangue derramado
Sete facas de fio amolado
Sete olhos atentos encerrei
Sete vezes eu me ajoelhei
Na presença de um ser iluminado
Como um cego fiquei tão ofuscado
Ante o brilho dos olhos que olhei

Um metal esquisito e borbulhante
Como larva descia de um facão
Cujo dono montado num tufão
Carregava tal arma trucidante
E bramindo tal qual um elefante
Condenava a doutrina de mentir
Meu cachorro danou-se prá latir
Correu sangue no tronco da jurema
Vi o lombo da serra Borborema
Reluzindo o calor da carirí

Uma porta que abre-se rangendo
Sete gatos que pulam nos umbrais
Uma lua que geme por detrás
Sete bocas de gozo se mordendo
Sete dentes de ouro derretendo
Sete ondas gigantes sobre o mar
Sete fogos divinos de queimar
Sete cobras, piolhos de serpentes
Sete vidas de normas aparentes
Sete horas eu vou me levantar

Minha lira se chama Amaltéia
Meu cavalo se chama Mato-Grosso
Minha cama de vidro é um colosso
Meu planeta foi berço de Medéia
Minha asa foi feita na Coréia
Me trouxeram no bico de um condor
Carro forte, blindado e sem valor
Atrevido poeta e penitente
Olho fundo queimado de sol quente
E contraído de ferro e de calor

Não pretendo deixar dedos falarem
Nem fazer de você perda inútil
Nem vestí-la de sedas de um tom fútil
Nem querê-la dormente de bobagem
Meu tecido forjado de coragem
Nos teares ferventes de Satã
Destronado do trono desse clã
Meu juízo atirou-se na procura
Desviou-se dos beijos da loucura
Aquecendo o bocejo do acuã

A visão do meu olho cristalino
Captando cometas estrelados
Nebulosas e astros anelados
Através do cabelo de um menino
Seu sorriso tem ares de divino
Porque males nenhum pode sofrer
São crianças que vão sobreviver
Ao poder que reinou embrutecido
Pelo mundo ficou só o rugido
Dos motores que o homem quis fazer

Observo olhares sem destino
Perfurando ovários estrelares
Entretanto vacilam se buscares
Tua régua de olho cristalino
No cabelo só passa o pente fino
Na retina só vejo se olhar
No gameta desprendo meu colar
Na costela da perna de um Adão
Nos olhares das pernas de um pavão
Hipnóticos ao enfeitiçar

A revolta de toda a natureza
Mediante a matança dos seus bichos
Através dos grudentos carrapichos
Toda praga que vem é com certeza
O silêncio que paira na probreza
È capaz desse mundo acordar
Para um louco que vive a meditar
No dragão que matou a mocidade
Um herói que morreu pela metade
E se viveu não tem fôrça prá contar

Mas a vida me leva pela noite
Até o vento se cala a cotovia
Uma ponte até um outro dia
Um cangaço que pede um açoite
Que ninguém me convide que pernoite
Nos confins das crateras poluídas
Tenho várias couraças destemidas
E brazões de metais incandescentes
Tenho rio, riachos e correntes
Tenho chamas e são embevecidas

Quem duvida do fogo que não queima
Acredita na água que não lava
Atormenta botecos se deprava
Associa seu ódio com a teima
Portador dos bacilos e da reima
Adquire doenças genitais
Nos colchões supurantes onde vais
Expulsar a resina dentro dela
Adormeces no peito da janela
Engolfado nos gases de Alcatraz

Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário
Pode a Bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda
Mas a mente talvez não me atenda
Se eu quiser novamente retornar
Para um mundo de leis me obrigar
A lutar pelo êrro do engano
Eu prefiro um galope soberano
À loucura do mundo me entregar

Aprendi muito cedo a solidão
Das pessoas que vivem sem pecado
Nesse mundo de eixo avariado
Não há ritmo de amor no coração
Mas o reino do grande Salomão
Alojou-se na mente de José
A malícia do mago Lucifér
A candura de um anjo serafim
Os tesouros da Costa-do-Marfim
E o futuro vai vir quando vier



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

o bom e velho rock'n'roll

                                                                                                  
 Da banda IRA!

                                                      (Homer Simpson e o símbolo do Rock)


Quem me abraçou, me protegeu
Me acalmou, me engrandeceu
Quem me despiu e me cobriu

O bom e velho Rock'n Roll

Quem me abateu e me vendeu
Me conquistou, me seduziu
Me entorpeceu e encaretou
Me converteu em pecador
E quem morreu, ressuscitou
E quem partiu depois voltou
E quem mentiu, até blefou

O bom e velho Rock'n Roll

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O NECESSÁRIO PARA A VIDA

                                                                                                                   Por Ed Cavalcante

Por esses dias estive viajando, revisitando um lugar que eu não via há vinte e cinco anos. Trata-se de uma cidadezinha litorânea, Maragogi, coladinha com Pernambuco, lá no litoral sul. Uma maravilha. Na minha estada anterior, no longínquo ano de 1988, fui a trabalho. Na verdade, era mais diversão do que labuta, eu era crooner de uma banda de baile e fui animar uma festa de padroeira.  Na época, Maragogi era apenas uma vila de pescadores que se estendia margeando a BR. Atualmente, a cidade ganhou equipamentos urbanos e oferece uma boa infraestrutura para atender os turistas que chegam diariamente para nadar na imensa barreira de corais.

Nos dias que passei por lá, além de me divertir bastante, fiquei observando o cotidiano da cidade, que segue um ritmo de vida bem menos frenético do que eu estou acostumado. Deu para perceber, claramente, que algumas pessoas sentiam-se extremamente felizes com a vida que levavam ali. Lembrei-me, então, de um amigo que sempre falava: “Meu pai precisa de pouco pra ser feliz, chega me irrita”. O que ele queria falar, na verdade, era que o pai não tinha ambições que fossem além do "pouco" que a vida lhe oferecia. Ele entendia aquela felicidade como conformismo.

Hoje, alguns anos mais velho, percebo que a felicidade não tem uma forma nem um tamanho definido. Que bom. Eu mesmo sou um exemplo disso. Houve uma época da minha vida que minha felicidade resumia-se a uma valise do tipo 007. Lá pela minha adolescência, eu era uma criança retraída que sonhava em ser cantor. Escrevia letras de músicas compulsivamente e as guardava dentro de uma valise preta que era o meu maior tesouro. Meus melhores momentos resumiam-se as várias noites de solidão com minha valise e meus textos que guardo até hoje. Até a solidão, um monstro que assusta  muita gente, era algo imperceptível diante da felicidade que eu tinha em escrever aqueles textos.

Esse modo de pensar foi levado ao pé da letra durante o movimento hippie em que pessoas se desfaziam do supérfluo para viver, apenas, com o necessário em harmonia com a natureza. Não cheguei a tanto, mas estive perto. O tempo foi passando e eu fui adicionando – ou deixando chegar – outros elementos que proporcionavam felicidade a minha vida. Um violão, um toca discos, um gravador, minha coleção de discos,  de revistas, meus livros, meus poucos amigos e meus muitos sonhos. Viver bem, ao final das contas, é o resultado das suas escolhas e da preservação do que realmente  traz felicidade.

Fonte: Jornália do Ed
 (http://www.jornaliadoed.com.br/2013/01/o-necssario-para-vida.html)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A educação, o professor e o caminho das pedras



Por Valdecir Ximenes

se fosse fácil achar o caminho das pedras, tantas pedras no caminho não seria ruim” (Engenheiros do Hawaii)

A educação perde a cada dia mais professores. Saem da escola, prestam concurso para áreas diversas (bancos, instituições estaduais, ou federais), vão trabalhar autonomamente, mas não assumem a escola. E a culpa não é de todo dos governantes. Muitas pessoas com alto nível de competência fazem licenciaturas mas quase sempre abandonam o professorado. Por vários motivos. Falta valorização dos professores, salários melhores, assistência dos dirigentes, mais espaços estruturados para melhor se trabalhar. Muitas outras vezes o pessoal tem ambições “maiores” - a sociedade estimula bastante- querem ser médicos, advogados, engenheiros, dentistas. Outros vão fazer mestrado para serem cientistas/pesquisadores (e daí seguem até o doutorado) ou para serem professores de ensino superior ou para serem técnicos. Ainda existe e muito essas ambições, algumas delas ligeiramente louváveis, outras nem tanto! 
 
A educação é a pedra angular de construção de uma melhor sociedade. Para se atingir níveis de excelência em ensino, ciência e tecnologia, há que se investir pesadamente em educação. É até clichê falar, mas nunca é repetitivo dizer: educação é a chave. O resto vem como consequência!

A culpa da má educação é do governo federal, dizem muitos acorrentados mentalmente! Em aspectos, sim. A culpa mesmo é da sociedade como um todo: empresários, pessoas comuns, padres, pastores, os políticos, os militares, enfim, todo mundo! Não se pode culpar unicamente este ou aquele governo local, estadual ou federal.
Para todos os efeitos a educação no Brasil melhorou significativa nos últimos anos. Mas do que verdadeiro e honesto afirmar isso, as estatísticas falam por si. Mas não é somente por isso. Hoje os professores que estão no ensino, são em sua maioria, graduados ou graduandos. O que já é um grande passo fundamental. Há destinos de dinheiro público unicamente para a educação. Os salários dos professores estão, mesmo que timidamente, melhorando. Existem carros e mais carros para transportar alunos. Há livros para os dois níveis básicos de educação (fundamental e médio). As escolas estão sendo melhoradas. Há na maioria das escolas, computadores conectados a internet para pesquisas e etc!

Mas quando se estar em sala de aula ainda enfrentamos muitos percalços. Alunos desmotivados, a maioria. Pouca assistência e apoio aos professores, que muitas vezes ficam como Daniel na Cova do Leões. Ou seja, perdidos, acuados e confrontados. Acomodação quase que involuntária por parte de quase todos os professores. Não por que eles queiram tal acomodação, mas por imposição. Muitos trabalham dois turnos ou mais e daí não terem tempo para muita coisa de modo que ficam impossibilitados para estudarem/lerem e se atualizarem. O pouco tempo que lhes restam é apenas para se dedicarem a esposas (os), companheiros (as), namorados (as) ou para os filhos. Enfim, é uma via de mão única!

Por outro lado há alunos realmente talentosos em nossas escolas. Alunos motivados, interessados. Alunos cuidadosos com suas responsabilidades quanto a estudantes e não somente quanto a serem alunos. Estudantes dignos de estudar, quando no ensino superior, em centros de excelência educacional tais como ITA, USP, UFC, etc. Por que são alunos com potencial para serem os melhores em seus estudos. Mas esses alunos ficam que nem cordeiros entre os lobos, ficam impossibilitados de desenvolverem-se ao máximo, pois pelo efeito dominó que o matemático russo Andrei Toom se refere, os desinteressados acabam afetando os interessados. 
 
Em todo caso, há que se dizer que um bom professor faz muita diferença na vida educacional de um bom aluno. Um bom professor aponta claramente o caminho das pedras a todos. Mas a ânsia pelo conhecimento, pelo saber tem que partir dos próprios alunos. O Matemático e Físico italiano Galileu Galilei nos garantiu que ninguém ensina nada a ninguém, apenas ensinamos todos a aprender por conta própria, o que dado a autoridade de Galileu, é mais do que verdadeiro. Uma turma de bons alunos é que faz um bom professor. Um professor competente se interessa por seus alunos. Zela por eles, os defende, os motiva, os provoca para que busquem mais e mais.

domingo, 1 de setembro de 2013

Ednardo, o pavão misterioso e o Pessoal do Ceará


Pavão Mysteriozo é famoso um romance popular da literatura de cordel nordestina, feito na Paraíba, e que mesmo após questionamentos de quem seja sua autoria, é uma obra prima da literatura popular. Os seus versos principiam assim:

“Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso”

E segue de forma bonita e envolvente.

O cantor e compositor cearense Ednardo, da turma do Pessoal do Ceará, que conta com artistas de peso tais como Fagner, Belchior, Rodger Rogério, Fausto Nilo entre outros, resolveu fazer uma música justamente com o título Pavão Mysteriozo, do seu álbum de estreia de 1974,  hoje uma referência na música popular brasileira, um hino da liberdade e da diversificação da música, uma vez que o som que embala a mesma é uma mistura de vários ritmos. Aqui está trechos desse hino:

“Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...
Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...”
Ednardo, assim talvez como Belchior, é desconhecido no cenário musical brasileiro mas é muito seguido/admirado/curtido por fãs cearenses e nacionais, pois o mesmo encabeçou (foi um dos líderes) o movimento do Pessoal do Ceará. Este movimento foi iniciado na década de 70 e teve uma importância crucial para a música brasileira. E fundamentalmente cearense. Enfim, no site Almanaque Brasil diz melhor:

“Em comum, todos eram jovens e ligados às artes, principalmente à música. Também coincidia serem cearenses ou viverem no Ceará e ansiarem por mudanças na cena cultural do início dos anos 1970.
Destacavam-se nomes como Ednardo, Raimundo Fagner, Fausto Nilo, Belchior, Augusto Pontes. Essa junção de tanta gente boa ainda não estava batizada. Um locutor de uma rádio paulistana, porém, os anunciou como Pessoal do Ceará. E foi dessa forma que aquela agitação cultural entrou para a história.
O movimento iniciou-se entre estudantes da Universidade Federal do Ceará, então centro das discussões intelectuais de Fortaleza. Os jovens ouviam de forró a bossa nova, Tropicália e Beatles. Essa mistura de influências começou a resultar em sons nunca ouvidos no lugar. Tudo com letras inspiradas, que reproduziam o anseio por mudanças estéticas”.

O site ainda continua:

“Um dos marcos foi o lançamento, em 1973, do disco Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto na Viagem, que recebeu como subtítulo Pessoal do Ceará. Nas vozes de Ednardo, Rodger Rogério e Teti, o disco apresentava uma pequena revolução cultural.
Surgiam harmonicamente maracatus, toadas, sertanejos, rocks e canções psicodélicas de vários compositores locais. “Nosso trabalho foi todo feito com o mesmo amor e carinho como se tecem os lindos bordados que esta capa estampa”, apresentava o texto do disco. A música Terral resumia o movimento: Eu sou do luxo da aldeia / Eu sou do Ceará.”

Mas se se pergunta que é Ednardo ou Belchior, a maioria dos cearenses não sabem de quem se trata, mas se se pergunta que quem o time do Corinthians de São Paulo ou o Flamengo do Rio, a moçada bestialmente sabe. Uma contradição tremenda. Devíamos antes conhecer nossa cultura, nossa música, nos cantores e compositores e só depois deveríamos torcer para um time lá de fora!

Aproveito e curto até mais tarde o álbum de estreia do Ednardo até mais tarde, O Romance do Pavão Mysteriozo, de 1974.