quarta-feira, 28 de maio de 2014

Sobre o dinheiro, esse vilão (ou não)

...!!??

O dinheiro não é o vilão. Ele nos permite viver, realizar nossos sonhos, e até salva nossa vida quando precisamos. Ter dinheiro é uma das formas mais concretas de ser livre. Entretanto, se o colocamos no centro de nosso universo, ele pode sim se tornar uma prisão. (Alex Castro)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Cadê o soro que te induz a lutar, meu amigo? | A réplica


O meu amigo Joabi respondeu bem a contento a pergunta que fiz nesse nesse meu texto. Fiquei satisfeito. Porém como tudo, a gente sempre tem um ponto a mais para ser elencado. Pró ou contra ou ambos. E é essa a ideia de se escrever um texto: trazer um debate sempre bem oportuno. E definindo, conforme a Wikipédia: “Debate é uma discussão amigável entre duas ou mais pessoas que queiram apenas colocar suas ideias em questão ou discordar das demais, sempre tentando prevalecer a sua própria opinião ou sendo convencido pelas opiniões opostas. Geralmente debates são longos, e raramente se chega a alguma conclusão, porém é uma prática considerada saudável onde uma pessoa pode ver vários lados de uma mesma questão, desta forma, as pessoas que participam, aprendem concomitantemente sobre algo que uma e a outra não sabiam. E é assim mesmo, meu camarada!
Isso, o debate, meus amigos!
Então vamos adiante. Presumo que concordamos em muitos aspectos mas como é natural, discordo em partes da resposta do Joabi ao meu texto inicial. Primeiro você estudar, madrugar, ralar, sofrer vários bocados ruins pra passar em um concurso público e se estabilizar, ganhando com isso uma vida mais decente e um status subsequente, não é nada capitalista. Venhamos e convenhamos isso né! Ou seja: “ser graduado em licenciatura e resistir ou desejar um concurso de bacharel que lhe dará um cargo de valor bem elevado em relação ao de professor, assim como: banco, caixa econômica, previdência social ou qualquer outro órgão superior que lhe garanta renumerações acima de R$ 3.000” não faz de ninguém um alinhado ou rendido ao sistema capitalista. Se alguém que atinge esses patamares o fazem é por que são elitistas e covardes mesmo. É - depois que estiver em condições melhores - aproveitar o seu dinheiro e oportunidade como energia para fazer acontecer. Para mudar aquilo que está errado. Influenciar as pessoas a seguirem pelo mesmo caminho: o caminho não fácil do estudo, da privação de diversão, para que assim se construa um futuro promissor para nós e para os outros.

E eu aqui; vários filmes e matutano: Será que ele é contra a gente estudar?!
Ora mas assim é capitalismo! Que nada rapaz. O dinheiro é a mola propulsora em todo sistema econômico: capitalista, socialista ou anarquista. Ele é a peça fundamental para se desenvolver. Lógico que não é tudo, mas é a energia que pode transformar. Por exemplo, o Stálin da União Soviética fez um acordo de Não-Agressão (Pacto Molotov-Ribbentropo) "capitalista" com a Alemanha Nazista, no qual ganhava mesmo era tempo de não guerra com os nazistas com o objetivo de crescer a União Soviética para além dos Montes Urais. 

Stálin, esse capitalista. Só que não!
Pra resumir, concordo que alguns de nossos amigos estão indireitando por que são elitistas mesmo. Por que são fajutos e oportunistas que outrora se fizeram como contestadores e críticos de um sistema que eles apenas queriam a vez deles. Ao chegar a vez, já deu!

Por fim, acho que os nossos amigos não estão indireitando por causa de dinheiro. Há mais variáveis na equação. Deve haver um erro na linha de código. O dinheiro, o prestígio e toda sorte de portas que possamos abrir deve ser usado como alavanca propulsora, como energia dinamizadora para fazer as coisas acontecerem do modo mais otimizado possível!

 


quarta-feira, 21 de maio de 2014

O soro que induz a lutar foi adulterado por grandes doses de capitalismo meu amigo! Complemento ao texto "cadê o soro que te induz lutar meu amigo"

Mesmo não aguentando, quero mais!


Gostei de sua indagação, sua revolta ou até mesmo um insulto meu caro Valdecir. Realmente nossos amigos, muitos se enveredaram, encontraram outros rumos onde talvez lhes tragam mais conforto, sossego e status, uma vez que, somente este ultimo predicado é possível, até porque numa sociedade capitalista: Conforto e sossego é apenas uma simulação. 

Nesse sistema o "justo é sempre o injusto", pois é, apesar de ser um trocadilho, mas é justo. Ser justo é uma questão de honra, sei que não é fácil continuar na luta por uma sociedade igualitária e justa "justo", quando você já se igualou à uma nível mais elevado daqueles que lutam! Até porque quem vai à luta é quem sente à falta, sei também que é difícil dizer não quando a oferta é bem maior, é difícil ir mais além, quando o horizonte está logo aqui, é difícil ser graduado em licenciatura e resistir ou desejar um concurso de bacharel que lhe dará um cargo de valor bem elevado em relação ao de professor, assim como: banco, caixa econômica, previdência social ou qualquer outro órgão superior que lhe garanta renumerações acima de R$ 3.000.

O nosso sistema nos impulsiona a fazer coisas que sempre afirmamos ser contra, ou disfarçamos ser contra. Ele nos induz a ser cruel com os outros e consigo mesmo, ele nos induz a procurar o mais fácil e à curto prazo. Por uma questão de necessidade somos obrigados a fugir de nossas realidades, em vez de sermos felizes em uma simples casa: preferimos uma casa no mínimo luxuosa! Com a necessidade de deslocamento: preferimos uma gloriosa Ferrari, uma SW4 ou um camaro! Uma vez que, esse deslocamento pode ser feito pelo um lindo e simples fusca, diga-se de passagem, pois sou fascinado por fusca. Temos também a necessidade de trabalharmos para sobrevivermos, e é nessa situação que ficamos em uma saia justa, precisa-se de transporte para fazer esse deslocamento até o trabalho. E ai? Fazer o que? Poucos tem condições de comprar um carro, uma moto nova! Uma moto que seja legal é claro! Pois motos cheio de complicações tem é muito pelo ai, e tem um preço bem agradável! O problema é a “ilegalidade”! Mas fazer o que? É preciso optar por essa alternativa. É racional? É lógico que não!

Fiquei muito grato meu caro Valdecir, quando você questiona pelos os demagogos ambientalistas. Cadê eles? Isso é bem verdade! Cadê aqueles que se diziam ou ainda dizem ser defensores da natureza? O que fazem eles fora desses discursos? Porque esses mesmos utilizam equipamentos totalmente prejudicial a mãe natureza? Equipamentos esse que são feitos da pura matéria-prima! Porque não se contentam apenas com um desses? Porque esses mesmo passam “horas” no chuveiro? Fazem críticas ao desmatamento, mas nunca plantou uma árvore ou ajudou pelo menos à regar? Porque não adotam um simples gesto de fechar uma torneira quando a vejam aberta e derramando água? Será que suas “atividadezinhas cotidianas” tem mais valor do que nossa escassa água? Porque esses com esses discursos ainda continuam à matar os animais que estão em extinção? Porque matam as coitadas das cobras que já existem poucas? Essas não são tão más igualmente o homem! Elas só ataca para se defender. Porque matam as aranhas, escorpiões, mosquitos e marimbondos? Uma vez que, esses dois últimos não estão em extinção! Pois no Boqueirão tem para dar e vender! Acabar com eles não tem quem consiga, pois se reproduzem muito rápido. Ecologicamente falando, não sei se matar esses insetos é crime ambiental, talvez não seja uma atitude racional! Sei que muitos agem por extintos naturais, ou seja, eliminam esses insetos pelo um ato de defesa, certamente a pessoa foi picado ou alguém por perto foi picado naquele momento, mas sei também que outros eliminam por pura covardia. 

“O homem é mal por natureza” afirmava Maquiavel, ele agi em prol da riqueza, do sucesso, para ele não interessa os outros, o essencial é o dinheiro, estava certo Karl Marx quando afirma que “O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a”, o homem é uma massa de modelar, e quem modela é o dinheiro.

domingo, 18 de maio de 2014

Escrever é enxergar e entender as pequenices

Por Jader Pires no PapodeHomem

Miudezas. São elas que dão todos os sabores para uma boa escrita, pra que ela seja lida com mais gosto.

Eu estava, por esses últimos dias, tendo uma conversa acarinhada com o grande Luciano Ribeiro. Nessa fiada, estava confessando para o tal que eu sentia falta, mais que tudo por aqui, de um horizonte em São Paulo, minha Paulicéia discretamente deselegante.

Sobre a minha revelaçãozinha, o aguerrido Luciano teve a gentil pachorra de me jogar nas fuças que lá em tua terra, a bem aventurada Belém do Pará, há um rio que corta algumas terras e que, de lá de um dos lados, há sempre que se ver o horizonte distante e pacífico, sempre disponível.

Do outro lado do rio, lá pros lados de lá, vivem os ribeirinhos.


De acordo com o Wikipedia, os ribeirinhos “são populações tradicionais que residem nas proximidades dos rios e têm a pesca artesanal como principal atividade de subsistência e cultivam pequenos roçados para consumo próprio. Podem praticar também atividades extrativistas”.

O subterfúgio foi repentino, imediato. Cá estava o segredo da escrita: Entender a miudeza das palavras, os sentidos que elas ganham quase sem querer.

Esse povo que mora além água poderiam ser chamados de ribeirenses, ribeiranos, ribeiros! Mas não. Eles são os ribeirinhos. A delicadeza em mais alto grau, em estado puro de calmaria e modéstia. Que palavra mais linda.

Na parte mais alta desse Brasil, o artigo também mostra, nessa minúcia desavergonhada, a beleza nas coisinhas bem pequeninas. Não é “o artigo do Jader, a shot do Jader”. Por lá, é “o texto de Jader, a casa de Jorge Amado”. Parece pouco? Pense com mais brandura.

Trocar o “do” por “de” faz com que caia como tudo que sucumbe à gravidade a posse, a mesquinharia inocente por toda a elevação das coisas. “Aquela é a poesia de Jader” bota o escrito menino num pedestal efêmero, mas tomado de completo aconchego. Assim como os ribeirinhos são vistos, por esse escritor encabulado, como um povo de vida dura sim, mas levada não aos trancos, mas no balanço das águas, no cafuné das folhas das árvores. Felizes são os ribeirinhos. Afortunados são as pessoas como o Luciano, que passa e tem contato visual com os ribeirinhos, com o horizonte, com a minúcia das palavras a completa disposição. Bobo ele se não souber aproveitar.

Escrever é, sem sombra da menor dúvida, saber ser menor que todas essas pequenices que torna a escrita, uma das delícias mais elevadas dessa vida.
(…) não tenho culpa desta chaga, deste cancro, desta ferida, não tenho culpa deste espinho, não tenho culpa desta intumescência, deste inchaço, desta purulência, não tenho culpa deste osso túrgido, e nem da gosma que vaza pelos meus poros, e nem deste visgo recôndito e maldito, não tenho culpa deste sol florido, desta chama alucinada, não tenho culpa do meu delírio.
Lavoura Arcaica – Raduan Nassar

Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte.
Mia Couto – Terra sonâmbula

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco (…) Mas, não diga o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia.
Guimarães Rosa  - Grande Sertão: Veredas
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
.
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não gostava:Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
Manuel Bandeira – Libertinagem/Estrela da Manhã

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Hoje o carro ficou na garagem

Por Flaco Marques no PapodeHomem

O automóvel é o totem da sociedade moderna. Desde o século passado, nos organizamos em torno das quatro rodas que podem significar diversas coisas, desde potência sexual até opção de moradia.
A importância do carro é tão marcante que seus métodos de produção tornaram-se casos acadêmicos, como o Fordismo e Toyotismo. A cada novo modelo lançado, o carro vai se institucionalizando e conformando a vida das pessoas em outros sentidos além do mero deslocamento e transporte.
Ouvi dezenas de mulheres que escolhem um pretendente a partir da propriedade ou não de um veículo. Quanto mais invocado o carro, maior o interesse da moça. Da mesma forma, alguns rapazes mensuram a masculinidade um do outro por meio da gravidade do ronco do seu motor.
Thiago Kiwi fazendo sua parte lá na Inglaterra.
No Brasil, o consórcio de Juscelino Kubitschek e as auto montadoras rendeu o financiamento da construção de Brasília. O então presidente deu como garantia o privilégio do transporte sobre rodas sobre outros métodos, como ferrovia e hidrovia. O Brasil iria se integrar pelo asfalto.
Pois bem, esse compromisso hoje cobra seu preço. O frete rodoviário no Brasil encarece ainda mais o produto final para os consumidores distantes dos grandes centros produtores. A omissão estatal nas rodovias federais, além de complicar as trocas internas, também é responsável pela ceifação de vidas. Não bastando, não se tem outra alternativa de transporte: ou é rodoviário ou é rodoviário.
E o caos nas cidades?
E os rachas da molecada?
E a poluição gerada pelo número cada vez maior de veículos circulando?
Danilo Scorzoni aproveitando o combustível que seria gasto de todo jeito.
Reflexões como essas, além da preocupação ambiental, levaram a criação do Dia Mundial Sem Carro. A data é uma iniciativa global da World Carfree Network (www.worldcarfree.net), que tem como objetivo fazer com que as pessoas reflitam sobre outras maneiras de se deslocar e se relacionar como um todo. A fundação também possui propostas para reaproveitamento de espaços urbanos degradados.
No entanto, a figura do carro é só a cereja do bolo, a ponta do iceberg. Será que somos humanos piores por causa de nosso transporte? Ou a nossa natureza humana corrompeu também a nossa forma de se deslocar?
O dia 22 de Setembro é uma boa data para se pensar nisso. E também para agir, cada um ao seu modo, como fizeram o Danilo e o Thiago, os caras aí das fotos.
Para finalizar, sugiro duas ótimas leituras:

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Slash: o cara mais estranho do mundo

Slash é o cara. O cara mais estranho do mundo. É certo que é também um dos maiores guitarristas de todos os tempos. É um cara muito estranho. No entanto, é mesmo um madafaca da música e do rock.

"I'm motherfucker, yeah!"
Sem entrar no mérito do seu sempre antagonismo com o Axl Rose (o que levou ao fim uma das bandas mais rock'n'roll da história, o Guns N' Roses) Slash é um cara que ainda dará matéria especial para a Psicologia Moderna por sua complexidade. O cara é estranho! E é bicho solto. E é o madafaca mais completo do rock mundial. 

Um videozinho para exemplificar, com sua banda em 2012, pela MTV.


Vai lá, cara, vê aí meu!


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Cadê o soro que te induz a lutar, meu amigo?

Suspiro.

Falta gás. Falta a centelha que mantém a chama acesa. Falta ânimo. Falta vontade, entusiasmo, gana. Falta participação nas coisas e no mundo. É assim que começo estas inconvenientes inquietações. Elas dizem respeito aos meus amigos (e amigas) e companheiros de batalhas de outrora.
"Cadê você meu amigo?"
Cadê vocês meus amigos e minhas amigas? Vocês realmente são ou eram meus amigos? Cadê o soro que os induzia a lutar? Cadê a revolução? Onde estão os caras que diziam que a guerra ia acabar? Cadê os caras que sonhavam em mudar o mundo? 

Não todos, mas alguns viraram burocratas. Viraram professores, diretores, coordenadores e se tornaram resolutos anti aquilo que os colocaram onde estão: se tornaram conservadores e direitistas que agora são contra aquela ideia inicial. São a favor do capitalismo que antes era o inimigo mortal. Se tornaram pessoas entupidas pelo estresse do trabalho. Se alinharam ao sistema que antes era o alvo que queriamos acertar.

Outro suspiro.

Cadê os ecologistas/ambientalistas de plantão? Resolutos que eram na defesa da natureza e dos animais hoje matam animais numa mais aberrante contradição. Queimam maribondos, matam cobras indefesas. Que lindo, meus amigos, que lindo! E eu ainda insistindo nesse besteira de coerência né, minhas amigas? Eu, o sonhador.

Agora uma pausa. E voltamos.

Mas amigos eu não sou contra você ter um carro novo. Sou a favor contanto que todos possam igualmente ter um carro. Que eu, você e todo mundo tenha as mesmas igualdades e condições de comprar um carro, mas que tenhamos (nós e todos) a consciência de que um carro ou carros só vai priorar a situação das coisas. Só vai inviabilizar o transporte para você e para todos. Mas que lutemos para que as pessoas tenham a igualdade minha e sua. Sem mais delongas!

Pausa longa. 

E vamos colocar em letras garrafais, para ser lido em alto e bom som:

Cadê o soro que te induz a lutar, carái?


sexta-feira, 2 de maio de 2014

Coisas que eu queria saber aos 21: Herch Moysés Nussenzveig

Físico e professor da UFRJ fala de sua formação


Sempre fui viciado em leitura: dois conselhos que dou para escolha de carreira (e para a vida toda) têm origem literária. O primeiro é do Gargantua de Rabelais, o dístico da sua utópica Abadia de Thélème: “Faça aquilo de que gostar.” O segundo é do Hamlet, dado por Polonius a Laertes: “Isto acima de tudo: sê fiel a ti mesmo.”

Segui ambos para minha escolha, aos 17 anos. Ganhei, num concurso de redação sobre o legado cultural da França, uma bolsa do governo francês para cursar um ano de qualquer faculdade. Uma das minhas paixões era a matemática; outra, o cinema. Optei pela primeira, e cursei Mathématiques Générales na Sorbonne, excelente formação básica. Em Paris, pude usufruir, mesmo com a bolsa modesta, de ótimos concertos, teatro e cinema.

De regresso a São Paulo, meu diploma francês foi reconhecido e ingressei na USP sem vestibular, no segundo ano de Física. No ano seguinte, veio para a USP, como refugiado do macartismo, o notável físico teórico David Bohm, com quem cursei física teórica e mecânica quântica.

Logo após meu bacharelado, Bohm emigrou para Israel, mas foi substituído por outro ilustre estrangeiro, Guido Beck, refugiado do nazismo. Beck adotou-me como discípulo e orientou meu doutorado em Física Teórica, defendido na USP mas realizado em parte já no Rio – onde ele pertencia ao CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas). Beck foi como um pai espiritual para mim.

Como bolsista do CNPq, fiz na Europa dois anos de pós-doutorado, com estadias muito proveitosas em três excelentes centros de física teórica em Utrecht, Birmingham e Zurique. Regressando ao Brasil, fui promovido a professor titular do CBPF, mas a situação financeira do centro, que na época era instituição privada, tornou insustentável lá permanecer. Recém-casado e com uma filha de poucos meses, aceitei um convite de professor visitante na Universidade de Nova York.

O golpe militar inviabilizou o regresso ao Brasil. Após um ano em Princeton, sem perspectivas de fim da ditadura, prossegui a carreira como professor da Universidade de Rochester, onde permaneci mais dez anos. Denunciei, em artigo para a revista Science, as arbitrariedades dos militares contra os cientistas, que acabaram aposentando compulsoriamente 68 dos nossos mais ilustres professores. Em 1975, com o início da redemocratização, voltei com a família ao Brasil.

Na USP, fundei o Departamento de Física Matemática. Fui nomeado diretor do Instituto de Física contra minha vontade, porque não pude me dedicar como desejava ao departamento nem continuar dando aulas na graduação. Para compensar, dei início à redação de meus livros de física básica, publicados inicialmente em versão manuscrita, por falta de tempo para revisão de provas.

No último ano de meu mandato, tomei conhecimento, por acaso, da conclusão inapelável do processo, iniciado por dois ex-ministros da Justiça da ditadura, que criou a casta dos “marajás da USP”. Eles aproveitaram um lapso da lei de 1963 que criou o regime de dedicação integral para restabelecer, quase 20 anos depois, um adicional aos que haviam ministrado um curso noturno naquela época.

Os efeitos em cascata pervertiam todo o sistema de reconhecimento do mérito acadêmico, chegando a igualar salários de auxiliares de ensino e professores titulares. Impossibilitado de manifestar de outra forma minha inconformidade, eu me demiti da USP e me transferi para a PUC-Rio.

Participando de uma comissão da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), conseguimos restabelecer o Conselho Deliberativo do CNPq e a participação de cientistas nas decisões, cerceada nos anos de chumbo.

Depois de mais uma década na PUC, ingressei na UFRJ, onde, há 15 anos e já com 65 (bem depois dos 21!), acabei fazendo mais uma escolha de carreira, novamente baseada nos preceitos mencionados no parágrafo inicial. Criei e coordeno um laboratório de biologia e biofísica celular.

Nunca me arrependi das minhas decisões. Tive a sorte de sempre ter trabalhado – e continuar trabalhando – em temas que acho bonitos e fascinantes. Entre eles, a explicação completa de dois dos fenômenos visualmente mais belos da natureza, o arco-íris e a auréola, uma coroa de anéis coloridos em torno da sombra de um avião projetada nas nuvens. Vale a pena procurar vê-la!”